quarta-feira, 27 de março de 2013

Plagio Indireto

Compositores musicais e escritores profissionais possuem uma máxima de que não é o artista que faz a obra, mas sim a obra que escolhe o artista para se manifestar.

É um pensamento que soa um tanto arrogante, mas subsidia este estigma as famosas histórias de que Paul McCartney haveria sonhado com Yesterday e que ao acordar ela estava praticamente pronta, ou que “I wanna rock and roll all nite and party every day”, a frase principal do clássico do Kiss e um dos hinos do rock, haveria saído de uma conversa boba entre os integrantes da banda e seu empresário.

Se você nunca leu um livro ou não gosta de literatura, dificilmente conseguirá criar um universo de Harry Potter numa viagem de trem entre Manchester e Londres, mas se você é uma pessoa imersa no meio musical ou tem o hábito de escrever, acaba deixando seu cérebro mais aberto a receber estas mensagens e com o tempo receberá também estes insights mágicos como se, realmente, a obra escolhesse o artista.

Meus melhores textos foram escritos em menos de dois minutos. É uma cena, um cheiro, uma sensação, que acaba por desencadear todo processo criativo. Só que vivemos num mundo de 7 bilhões de pessoas e há poucas coisas mais frustrantes do que, tendo recebido um destes milagres divinos, ver que ele já fora dito ou escrito por outra pessoa.

O texto de hoje se chamaria “Prefiro a Espada Flamejante” e apareceu na minha cabeça entre a av. Pedro Bueno e a Água Espraiada, no caminho para o trabalho. Eu iria comentar sobre o tão criticado fundamentalismo religioso que tomou conta do Oriente Médio, traçando um paralelo com a falta de fundamento na violência das cidades brasileiras, onde mata-se por matar, sem explicação ou motivo (vide o caso do garotinho de 6 anos morto gratuitamente pela empregada nesta semana).

Eis que ao entrar na av. Washington Luis, escuto o texto de Arnaldo Jabor na CBN hoje pela manhã, falando exatamente a mesma coisa.

Foi um balde de água fria. O texto estava pronto na minha cabeça, mas virou fumaça pois mantê-lo seria um plágio sem vergonha.

Curioso que a crônica de hoje foi um reprise. O texto original fora escrito em Dezembro do ano passado.

Teria eu escutado o original e formato parte do conceito na mente? Teria esta mensagem sido recebida e esperado apenas o momento certo para aflorar de maneira estruturada, no que seria um pseudo pensamento de minha autoria?

Na verdade nunca vou saber. Eu poderia ter acordado mais cedo, acordado mais tarde ou simplesmente estar ouvido outra estação e jamais me pegaria pensando nisto. O texto seria publicado e a vida seguiria.

Acho que vou ligar para o Rod Stewart para saber se ele passou por isto ao escrever “Do you think I´m sexy”.

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