É um pensamento que soa um tanto
arrogante, mas subsidia este estigma as famosas histórias de que Paul McCartney
haveria sonhado com Yesterday e que ao acordar ela estava praticamente pronta,
ou que “I wanna rock and roll all nite and party every day”, a frase principal
do clássico do Kiss e um dos hinos do rock, haveria saído de uma conversa boba
entre os integrantes da banda e seu empresário.
Se você nunca leu um livro ou não
gosta de literatura, dificilmente conseguirá criar um universo de Harry Potter numa
viagem de trem entre Manchester e Londres, mas se você é uma pessoa imersa no
meio musical ou tem o hábito de escrever, acaba deixando seu cérebro mais
aberto a receber estas mensagens e com o tempo receberá também estes insights
mágicos como se, realmente, a obra escolhesse o artista.
Meus melhores textos foram
escritos em menos de dois minutos. É uma cena, um cheiro, uma sensação, que
acaba por desencadear todo processo criativo. Só que vivemos num mundo de 7
bilhões de pessoas e há poucas coisas mais frustrantes do que, tendo recebido
um destes milagres divinos, ver que ele já fora dito ou escrito por outra
pessoa.
O texto de hoje se chamaria
“Prefiro a Espada Flamejante” e apareceu na minha cabeça entre a av. Pedro
Bueno e a Água Espraiada, no caminho para o trabalho. Eu iria comentar sobre o
tão criticado fundamentalismo religioso que tomou conta do Oriente Médio,
traçando um paralelo com a falta de fundamento na violência das cidades
brasileiras, onde mata-se por matar, sem explicação ou motivo (vide o caso do
garotinho de 6 anos morto gratuitamente pela empregada nesta semana).
Eis que ao entrar na av.
Washington Luis, escuto o texto de Arnaldo Jabor na CBN hoje pela manhã,
falando exatamente a mesma coisa.
Foi um balde de água fria. O
texto estava pronto na minha cabeça, mas virou fumaça pois mantê-lo seria um
plágio sem vergonha.
Curioso que a crônica de hoje foi
um reprise. O texto original fora escrito em Dezembro do ano passado.
Teria eu escutado o original e
formato parte do conceito na mente? Teria esta mensagem sido recebida e
esperado apenas o momento certo para aflorar de maneira estruturada, no que
seria um pseudo pensamento de minha autoria?
Na verdade nunca vou saber. Eu
poderia ter acordado mais cedo, acordado mais tarde ou simplesmente estar
ouvido outra estação e jamais me pegaria pensando nisto. O texto seria
publicado e a vida seguiria.
Acho que vou ligar para o Rod
Stewart para saber se ele passou por isto ao escrever “Do you think I´m sexy”.
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