segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Ditaduras Laborais

Na semana anterior escutei no rádio uma interessante pergunta de um pai a um especialista em gestão de carreiras. O pobre homem, dizendo-se alguém não tão bem sucedido na vida em termos financeiros, questionava o colunista sobre sua credibilidade perante os filhos no tocante à orientação profissional dos mesmos, sendo que ele próprio a princípio houvera fracassado em seguir os próprios conselhos que agora dava aos mais jovens.

Eis que alguns dias depois participei das comemorações de dia dos Pais na escola dos meus pequenos. É o sétimo ano que isto acontece e o script costuma ser mais ou menos o mesmo: Em geral toca-se uma música - onde a maioria dos pimpolhos sequer se mexe - seguida da entrega de uma lembrancinha.

É sobre a lembrancinha que me peguei pensando no evento deste ano. Quando não é uma daquelas camisetas com a mão (ou pé) do filho marcado em tinta para tecido, normalmente um cartão pintado à mão e algum objeto para usar no trabalho.

Comecemos pelo cartão. Se no dia das mães, todos eles são em formato de coração, no dos pais todos eles são em formato de gravata. Sim, gravata. Quando varia um pouco é em formato de pasta executiva.
Nunca recebi um cartão em formato de picareta, de caminhão de lixo, de estetoscópio, nada. Sempre gravata.

Os presentes vão na mesma linha. Porta cartão, porta caneta, bloquinho de anotar papel, porta celular. Um mini kit de ferramentas com alicate e chave de fenda? Nunca. Um limpa graxa para os dedos? Nem em sonho. Um protetor auricular escrito “Eu te amo papai”? Jamais.

Meu pai nunca gostou destas comemorações escolares. Agora entendo. Profissional de trabalhos manuais, aquelas “homenagens” parece que nunca eram para ele. Depois de vários anos e três filhos, ele nem se esforçava mais para parecer gostar do porta-canetas.


As mulheres sofrem  com a ditadura da maternidade e a eterna e desequilibrada balança entre filhos e trabalho. Mas para os homens tampouco é mais fácil. No inconsciente coletivo, ainda é a gravata e a mesa que significam sucesso. Algo que está há anos luz de ser verdade.

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