domingo, 22 de junho de 2014

Do LIvro ao Entulho

Foi um daqueles casos onde, pelo jeito que o rapaz atendeu ao telefone, eu já sabia que ia dar boa coisa:

- Entulho Zona Sul, bom dia.

Fruto de uma pequena intervenção em casa, fiquei com alguns sacos de entulho para dar fim, mas estava com um problema. O volume era pequeno demais para justificar uma caçamba, e grande demais para jogar no lixo comum. Pensei que eu não deveria ser a primeira pessoa do mundo a ter este tipo de problema e recorri à internet.

A página era modesta. Alguns números de celular, a foto de uma Kombi e a promessa de retirada de qualquer coisa que não prestasse mais, de móveis a eletrodomésticos, incluindo o próprio entulho.

Pelo escopo de atividades, esperava que a minha ligação fosse atendida por um “Oi”, ou então “Fala”. O “Entulho Zona Sul, bom dia” foi apenas a primeira surpresa.

Expliquei meu caso, negociamos preço – um terço da caçamba convencional - e a data da coleta. Na véspera do dia marcado, o Roberto – era o nome do educado rapaz que me atendera – me ligou confirmando o agendamento e o horário.  Não, não estava comprando um carro novo. Estava apenas recolhendo entulho. E ele me ligou para confirmar o trabalho.

Quinze minutos antes do horário marcado para retirada e lá estava o próprio Roberto em frente minha casa com a Kombi da foto. Antes do horário marcado! Outra surpresa.

Carregou sozinho os sacos de entulho desde o quintal até a garagem – escada acima – e depois até o interior da Kombi. Não me permitiu ajuda-lo.

- Pode deixar sr. Thiago, eu mesmo carrego. Estou acostumado.

Para minha sorte. Eles estavam pesados para um atleta de escritório.

- Quer a nota com ou sem CPF sr. Thiago?

Era surreal. Nota fiscal?

Enquanto bebia a água que eu oferecera, comentei sobre a boa sacada que era este tipo de serviço, já que normalmente tínhamos apenas como opções alugar uma caçamba ou contar com um carroceiro que fatalmente jogaria o entulho num terreno qualquer.

 - Mas foi assim que comecei. Eu morava na Nove de Julho com a São Gabriel e...

- Onde?

- É na Nove de Julho com a São Gabriel. Meus pais ainda moram lá. Eu percebi que todo morador tinha o mesmo problema que o seu. Fazia uma reforminha e não tinha como se livrar do entulho. Resolvi arriscar. Tenho faculdade e tudo. Sou bibliotecário mas não tenha muita paciência para ficar atrás de uma mesa. Larguei tudo, comprei um galpão em Embu e sigo a vida coletando coisas que as pessoas não querem. Uma parte vendo, outro reciclo e acabo ganhando nas duas pontas. Não sei quanto tempo vou aguentar mas enquanto der, estamos aí.

- É impressionante. Mas por que você não coloca alguém para te ajudar?

- Eu tenho uns ajudantes. Mas saindo daqui vou fazer um orçamento para um colega de faculdade. Tenho 4 toneladas de material para retirar e não tinha porque ficar carregando ajudante o dia inteiro. Resolvi vir sozinho.

- Papel?

- (risos)... sim, papel. A faculdade não foi de todo perdida, não é?

Despeço-me de Roberto desejando boa sorte e com a promessa – sincera – de indica-lo amigos e conhecidos.


Via de regra, o mercado de prestação serviços é tão ruim que fazendo apenas o básico, conseguimos encantar. E neste quesito, o Roberto foi longe.

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