Foi um daqueles casos onde, pelo jeito que o rapaz atendeu ao
telefone, eu já sabia que ia dar boa coisa:
- Entulho Zona Sul, bom dia.
Fruto de uma pequena intervenção em casa, fiquei com alguns
sacos de entulho para dar fim, mas estava com um problema. O volume era pequeno
demais para justificar uma caçamba, e grande demais para jogar no lixo comum.
Pensei que eu não deveria ser a primeira pessoa do mundo a ter este tipo de
problema e recorri à internet.
A página era modesta. Alguns números de celular, a foto de
uma Kombi e a promessa de retirada de qualquer coisa que não prestasse mais, de
móveis a eletrodomésticos, incluindo o próprio entulho.
Pelo escopo de atividades, esperava que a minha ligação
fosse atendida por um “Oi”, ou então “Fala”. O “Entulho Zona Sul, bom dia” foi
apenas a primeira surpresa.
Expliquei meu caso, negociamos preço – um terço da caçamba
convencional - e a data da coleta. Na véspera do dia marcado, o Roberto – era o
nome do educado rapaz que me atendera – me ligou confirmando o agendamento e o
horário. Não, não estava comprando um
carro novo. Estava apenas recolhendo entulho. E ele me ligou para confirmar o
trabalho.
Quinze minutos antes do horário marcado para retirada e lá
estava o próprio Roberto em frente minha casa com a Kombi da foto. Antes do
horário marcado! Outra surpresa.
Carregou sozinho os sacos
de entulho desde o quintal até a garagem – escada acima – e depois até o
interior da Kombi. Não me permitiu ajuda-lo.
- Pode deixar sr. Thiago, eu mesmo carrego. Estou
acostumado.
Para minha sorte. Eles estavam pesados para um atleta de
escritório.
- Quer a nota com ou sem CPF sr. Thiago?
Era surreal. Nota fiscal?
Enquanto bebia a água que eu oferecera, comentei sobre a boa
sacada que era este tipo de serviço, já que normalmente tínhamos apenas como opções
alugar uma caçamba ou contar com um carroceiro que fatalmente jogaria o entulho
num terreno qualquer.
- Mas foi assim que
comecei. Eu morava na Nove de Julho com a São Gabriel e...
- Onde?
- É na Nove de Julho com a São Gabriel. Meus pais ainda
moram lá. Eu percebi que todo morador tinha o mesmo problema que o seu. Fazia
uma reforminha e não tinha como se livrar do entulho. Resolvi arriscar. Tenho
faculdade e tudo. Sou bibliotecário mas não tenha muita paciência para ficar atrás
de uma mesa. Larguei tudo, comprei um galpão em Embu e sigo a vida coletando
coisas que as pessoas não querem. Uma parte vendo, outro reciclo e acabo
ganhando nas duas pontas. Não sei quanto tempo vou aguentar mas enquanto der, estamos
aí.
- É impressionante. Mas por que você não coloca alguém para
te ajudar?
- Eu tenho uns ajudantes. Mas saindo daqui vou fazer um
orçamento para um colega de faculdade. Tenho 4 toneladas de material para
retirar e não tinha porque ficar carregando ajudante o dia inteiro. Resolvi vir
sozinho.
- Papel?
- (risos)... sim, papel. A faculdade não foi de todo
perdida, não é?
Despeço-me de Roberto desejando boa sorte e com a promessa –
sincera – de indica-lo amigos e conhecidos.
Via de regra, o mercado de prestação serviços é tão ruim que
fazendo apenas o básico, conseguimos encantar. E neste quesito, o Roberto foi
longe.
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